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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Os Lagos do Norte - Itália









De vez em quando a gente faz uma viagem que não cabe na gaveta do esquecimento. Há um ano atrás, passei uma semana na Itália, e um daqueles dias continua tão vivo na memória que nem é preciso recorrer à fotos para relembrá-lo: o dia em que fui levado para conhecer dois lagos do norte da Itáila: Orta e Maggiore. Fiquei hospedado em Borgosesia, uma pequena cidade na região do Piemonte, a cerca de 60Km de Milão. A região é um imenso vale cercado de montanhas e cortada por rios e riachos. Muito propícia, por exemplo, aos amantes do ciclismo. Depois de visitar alguns outros lugarejos como a histórica Varallo, ao pé de Sacromonte, e Alagna, ao pé do Monte Rosa, uma estação de esqui onde vive uma comunidade formada por italianos e austríacos, fui conhecer a região dos lagos.

San Giullio di Orta é uma ilha que, além da água, é cercada por lendas e mistérios. Deve o seu nome a um padre alemão que ali chegou no século IV da era cristã e passou a ser venerado como um santo após libertar a ilha de serpentes, dragões e outros seres, reais ou imaginários, que habitavam o local. Hoje, é o lugar perfeito para quem procura associar férias com boa comida, bom vinho e, um bom descanso. É possível ficar horas à beira do lago com os olhos perdidos no horizonte, sem ser incomodado. Nas suas ruas estreitas espalham-se obras de arte. Aqui e ali você cruza com um ou outro habitante, quase sempre pessoas idosas. Definitivamente, não é o lugar para quem ainda tem a pilha muito carregada.

Da tranquilidade de San Giullio di Orta segui para conhecer o maior lago da região, o Maggiore, que é parte italiano e parte suiço. Há diversas vilas às margens do Maggiore, mas foi a partir de Stresa, onde Hemingway costumava buscar refúgio, que o passeio ganhou outra dimensão. Num barco alugado, fui conhecer 2 das 3 ilhas do lago: Ilha dos Pescadores e Ilha Bella, duas vilas medievais que ainda guardam marcas do tempo em que eram estâncias de férias de famílias nobres e abastardas. Quase não se vê os seus moradores, salvo um ou outro gato que rapidamente desaparece entre as suas vielas tão logo alguém se aproxima.

Das margens da Ilha dos Pescadores é possível ver o topo dos Alpes Suiços cortando o horizonte. Horizonte que jamais se apagará da memória de quem tiver o privilégio de fazer esta viagem.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Bath - Um banho de história






A primeira vez que tentei ir a Bath foi em 1995, quando visitei Londres pela primeira vez. Era um dezembro tão frio e chuvoso quanto tem sido esse janeiro de 2010. Estava já a caminho quando um alerta no rádio nos fez desistir. Estava com um casal de amigos e não tivemos nenhuma dúvida: melhor voltar. Nevava muito, era melhor não arriscar. Só 14 anos depois, descobri o que o tempo me impediu de conhecer.

Foi uma visita rápida, pouco mais de 3 horas, mas o suficiente para ter uma idéia de como os romanos deixaram suas marcas por aqui. Bath é um pedacinho de Roma dentro de território inglês. Dá gosto passear por aquelas ruas e ver como o antigo e o novo convivem de forma tão bacana. Mesmo sendo uma tarde muito fria e chuvosa, os turistas estavam em toda parte, numa convivência muito pacífica com os locais.

Logo na chegada fui visitar uma das termas. Na entrada, um belíssimo restaurante, onde se toma um belo cappuccino, ao som de música clássica, executada por uma orquestra, ao vivo. Para visitar as termas, o ingresso para adultos custa 11 libras, cerca de R$ 30,00. Posso garantir que a visita vale a pena, mesmo que você não se disponha a gastar esse dinheiro.

Bath é um registro da história, uma marca eternizada pelos romanos, num país que deve tudo o que é ao encontro de tribos que invadiram e guerrearam pelo controle da ilha. É bom acrescentar que as cantinas dos romanos são precursoras de uma das mais caras tradicões inglesas: o pub. Só isso já seria motivo para comemorar o longo tempo que eles estiveram por aqui, mas eles dixaram mais: deixaram Bath.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Uma viagem pelo interior da Inglaterra









Uma viagem não termina quando a gente volta pra casa. Por isso que grandes viagens duram mais, pois tornam-se inesquecíveis. Você pode contar e recontar inúmeras vezes, o que, em si, já é uma viagem. E inesquecível é a palavra que melhor define a viagem que fiz recentemente pelo interior da Inglaterra.

A rigor posso dizer que tenho uma certa familiaridade com parte do chamado "countryside", pois viajo frequentemente para visitar os meus sogros que moram no litoral de Norfolk, de onde o mar conduz ao Pólo Norte. Também já havia passado rapidamente pelo county (estado ou região) de Dorset, pelo qual me apaixonei dessa vez. A viagem foi um presente da Susan, com quem sou casado, que queria me mostrar um pouco dos lugares que ela frequentava nos tempos de estudante. Eu saí de Londres com uma vaga idéia do intenerário que faríamos.

A primeira parada desse roteiro-surpresa foi numa vila antiga chamada Cerne Abbas, que fica no Vale Cerne, na região central de Dorset. Para se ter uma idéia do tamanho da vila, o censo de 2001 registrou uma população de 732 habitantes. A principal atração de Cerne é um desenho de um gigante esculpido na lateral de uma montanha. A vila foi fundada por monges beneditinos em 987 DC e já foi famosa pela cerveja que produzia, devido à qualidade da água que brota do seu solo. A limpidez dessa água ainda pode ser apreciada no córrego que corta a cidade.

De Cerne, onde encontramos um casal de amigos, o Martin, inglês que reside há mais de 18 anos na Itália, e Cristina, sua namorada italiana, fomos para a simpática Weymouth, onde Susan e Martin relembraram os tempos em que estudavam cinema ali.

Anoiteceu às 4 da tarde e decidimos pegar a estrada rumo ao pub-hotel, onde ficaríamos por duas noites, na minúscula Nettle Combe, próximo a Bridport. Não me recordo de outro lugar melhor para dormir numa noite de frio. Encravada entre montanhas, Nettle Comb deve ser o lugar onde a paz busca refúgio, quando está cansada. Foi a primeira vez em que estive num lugar na Inglaterra onde não chega sinal de celular. Para completar, a hospitalidade e a educação ímpar dos moradores da região, deixam você ainda mais relaxado.

Manhã seguinte, depois de um típico café inglês, rumamos para o litoral, para gastar algumas horas em Lyme Regis, onde uma das principais atrações é o pier onde foi rodada a famosa cena de "A mulher do tenente francês". Visitamos também o pequeno museu da cidade, onde o autor do livro que deu origem ao filme, John Fowles, trabalhou como curador e arquivista. O museu guarda uma bela coleção de objtos arqueológicos, ja que Lyme Regis está localizada na região conhecida como Costa Jurássica. Curiosidade: compramos um ingresso que é válido por um ano. Mas o que mais me chamou a atenção em Lyme Regis foi um comportamente típico de quem vive em regiões frias e chuvosas: famílias, casais, amigos, cachorros, passeando como se estivessem em dia de verão. O Martin me explicou: se eles não saem em dia de chuva, se tornam prisioneiros na própria casa, pois chuva é o que mais tem região. Acabei entrando no clima e criei coragem para ir até a ponta do famoso pier, como prova a foto acima.

De Lyme Regis ainda tivemos energia para visitar a capital de Dorset, Dorchester. Chegamos lá por volta das 5 da tarde e já era noite. As lojas já estavam fechando, o que resumiu o nosso passeio a uma volta pela principal rua da cidade. Foi o suficiente para perceber o quanto eles veneram um dos seus filhos mais famosos, o escritor e poeta Thomas Hardy.

De volta ao silêncio e aconchego de Nettle Combe, desfrutamos de algumas pints e algumas taças de vinho, que acompanharam um delicioso jantar, antes de rumar para o conforto dos nossos quartos. Na manhã seguinte, no caminho de volta para Londres, paramos por algumas horas na pequena Roma que é Bath (foto acima). Mas isso é assunto para outro post.