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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Do Adamastor ao Lux


Quinta-feira, seis da tarde no escritório da agência de propaganda onde eu trabalhava em Lisboa. É verão e o meu telefone toca. Eu atendo, o diálogo é rápido e seguindo de mais alguns telefonemas que vou repassando para outros camaradas. Meia hora mais tarde, estamos sentados com o Tejo e o Porto de Lisboa à nossa frente, dezenas de turistas, a maioria estudantes europeus em férias, e a luz maravilhosa com que a natureza premiou Lisboa. Dividindo o horizonte em antes e depois, a imponente ponte 25 de abril ou, para os mais íntimos, no Adamastor, final do Bairro Alto, bem ao lado do Bairro da Bica. Começava ali a longa noite.

Depois do Adamastor, a próxima parada era o Wip, no Elevador da Bica. O Wip era (não sei se ainda é) uma espécie de 3 em 1, onde você podia cortar o cabelo, comprar umas roupas descoladas e tomar uns copos, localizado num antigo armazém. A calçada e a rua eram o ponto de encontro da moçada cool de Lisboa. Ao passar da meia-noite, a pergunta começava a circular: "quem vai pro Lux... quem vai pro Lux?".

O Lux é um daqueles lugares inesquecíveis por onde passei. A quinta era a minha noite predileta. Ao chegar, já era tratado com o deferimento devido a quem é da casa. Mesmo quando havia filas enormes, o segurança sinalizava para que eu abrisse passagem entre os pobres mortais e furasse a fila. No bar da parte superior, onde eu ficava até que a pista de dança abrisse, bastava me aproximar que já ouvia o familiar "vodca com limão?". Era linda aquela menina. Até dediquei-lhe um poema quando voltei para o Brasil.

Depois da tradicional perigrinação pelos diferentes ambientes que formam o Lux, tempo também para apreciar os móveis e a decoração, chegava a hora de descer para a pista onde, de tanto frequentá-la, já conhecia os meus pares. Era como uma pequena irmandade que se encontrava religiosamente, nas madrugadas de quinta pra sexta, sob o globo que iluminava a pista. Fervia até as sete da manhã. Na saída, alguns dos taxistas já me conheciam, o que tornava tudo mais simples. Sentava-me no banco traseiro e ouvia: "pode dormir, quando chergarmos eu acordo o senhor". E eu dormia até a chegada ao meu destino: Cascais.

Recentemente, quando voltei a Lisboa, para gravar alguns progrmas para o Canallondres, só consegui refazer o início da minha velha tour. Do Adamastor, tomei outra direção. Coincidentemente, estava com um daqueles amigos, o Cássio (foto acima) que costuma falar ao telefone nos finais de tarde para combinar a hora de se encontrar no Adamastor. Resistir, foi a prova definitiva de que estou aposentado das baladas. Mas fica aqui a dica para você aí, cheio de energia, na sua próxima passagem pela bela e inesquecível Lisboa.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fotos de crianças na Internet. A nova paranóia inglesa.


Calcula-se que em Londres exista 1 câmera para cada 4 habitantes. A principal explicação para tanto olho eletrônico é óbvia: medo de ataques terroristas. Mas a obsessão com a segurança, em detrimento da privacidade, acabou contribuindo para que a polícia aqui resolva cerca de 90% dos crimes que investiga. É muito difícil mover-se em Londres por 100 metros sem ser capturado por um desses olhares indiscretos. Por isso, uma das primeiras medidas que a polícia toma ao iniciar a investigação é examinar as imagens de todas as câmeras nas proximidades da cena do crime, ou nas possíveis rotas de acesso ou fuga. Junto com o exame de DNA, talvez seja a tecnologia que mais ajuda a desvendar um crime.

Depois do lançamento do Canallondres, em abril desse ano, se tem uma coisa que a gente aprendeu foi que é preciso cuidado quando se está filmando nas ruas da cidade. Se você está com uma câmera ligada numa estação de metrô, num grande shopping ou na City, o coração financeiro de Londres, a probabilidade de ser abordado por um policial, ou segurança da área, é muito grande. Por isso, quando filmamos nas ruas só usamos a câmera pequena, porque é fácil se passar por turista. Para usar uma câmera maior, ou mesmo o tripé, só se você estiver filmando com autorização do Council (sub-prefeitura) local.

Só que agora uma outra paranóia toma conta dos ingleses. O nome é feio: pedofilia. Como a internet tem se revelado um campo fértil para atuação dos pedófilos, cresce nos ingleses o medo de que as fotos dos seus filhos acabem caindo numa das inúmeras redes de pedofilia que povoam o mundo virtual. A primeira vez que presenciei uma cena que era indício desse novo comportamento foi no pátio da belíssima Somerset House, cenário de tantos filmes e que, no verão, é palco para concertos e apresentações ao ar livre. Pois bem, naquele dia ensolarado, 4 meninas adolescentes se divertiam entre as fontes de água, que brotam do solo e formam uma espécie de labirinto transparente, quando um fotógrafo, portando equipamento profissional, começou a registrar as belas imagens. Foi o que bastou para se armar uma grande confusão, com os seguranças tentando confiscar o seu equipamento. No final, ele teve apenas que deixar o local, mas não sem deixar os seus dados pessoais em poder dos seguranças. Just in case. Isso tem se tornado um tema tão sério a ponto de, recentemente, uma avó ter sido abordada e obrigada a provar que a criança, que ela fotografava no playground de um parque, era a sua neta.

Recentemente, fui gravar um programa no Museum of London e o funcionário que nos acompanhou fez duas recomendações explícitas: não filmar uma série de fotografias na parede da recepção, por conta dos direitos de imagem e, muito menos, os estudantes que circulavam pelas salas e corredores do museu, naquele dia.

É por isso que, dos cerca de 80 vídeos do Canallondres, apenas um registra imagens de uma criança e, mesmo assim, porque ela está acompanhada da mãe, a cantora Rebeca Vallim, que era a nossa entrevistada. E ainda assim, economizamos ao máximo a exposição do filho da Rebeca.

Se esta tendência veio para ficar, a cada dia, vamos ver menos e menos rostos infantis nos perfis dos ingleses em sites de relacionamento. Claro que é uma pena que isso aconteça, mas o inglês, em seu pragmatismo, não pensa duas vezes quando o assunto é segurança. Por isso mesmo as câmeras se integraram tão rapidamente à paisagem londrina. Também é uma prova de que a internet mudou definitivamente os limites entre o público e o privado. É uma nova realidade com a qual a gente precisa aprender a conviver.

Tudo isso me faz pensar numa das mais famosas fotos do mundo. Estou me referindo à imagem em que um menino carrega duas garrafas pelas ruas de Paris, capturada pelo clique único de um dos maiores fotógrafos de todos os tempos, Cartier Bresson. Hoje, pelo menos aqui em Londres, provavelmente, aquela foto seria impossível.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um museu perto de casa




Quando se fala em museus de Londres raramente alguém vai lembrar desse nome: Horniman Museum. Primeiro porque ele fica fora do circuito tradicional, como a Exhibition Road que, sozinha, concentra 3 grandes museus. O Horniman Museum fica, para minha sorte, em Forest Hill, bem pertinho da minha casa.

A origem do Horniman é bem interessante. Um comerciante de chá, Frederick John Horniman, começou a colecionar objetos durante as suas viagens e trazê-los para sua residência em Forest Hill. Com o tempo, a coleção cresceu e ele resolveu abrir a casa para que os vizinhos pudessem conhecer um pouco das culturas e lugares por onde ele passava, através daqueles objetos. O restante você pode imaginar: em 1898, ele contratou um arquiteto e encomendou o projeto do museu, que foi aberto em 1901. Uma das características do museu, mantida até hoje, é que o acesso sempre foi grátis.

Em maio desse ano, quando resolvemos fazer uma entrevista com a diretora de cinema Denise Zmekhol, para um programa do Canallondres, o Horniman Museum foi a primeira idéia de cenário que pensamos. Denise estava em Londres para mostrar o seu documentário Children of the Amazon, no Rainforest Project, ONG do Príncipe Charles. Children of the Amazon trata do legado de Chico Mendes para os povos da floresta e, claro, de qualquer parte do planeta e achamos que o Horniman, apesar da sua importância, é um bom exemplo do que não pode acontecer com os povos da Amazônia: acabarem relegadas a prateleiras de museus. Por isso, documentários como Children of the Amazon são importantes, já que é do conhecimento que nasce o respeito. Por coincidência, Denise está de volta para 3 exibições do seu documentário em Londres e Oxford, acompanhada de Elenira Mendes, filha de Chico Mendes.

Outra característica do Horniman é a preocupação com o lado educacional. É um lugar muito frequentado por crianças. A razão principal é o fascínio que o aquário do museu exerce sobre elas, mas daí para dar uma passada na maravilhosa coleção de instrumentos musicais e na área onde ficam expostos objetos africanos e asiáticos, é só um lance de escada. Agora, a cereja do bolo: o Horniman fica localizado num belíssimo jardim, no topo de uma montanha, de onde, em dias claros, desfruta-se de uma vista maravilhosa de Londres. Aliás, essa pequena montanha é a única razão pela qual eu não vou até lá andando.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O dono da calçada



Em qualquer cidade do Brasil a calçada é parte da casa. Em Londres, a calçada pertence à rua. Em princípio, isso poderia significar exatamente nada, mas faz uma grande diferença. Quem curte fazer "jogging" ou simplesmente dar uma volta no quarteirão, sabe a diferença: andar por uma calçada em qualquer cidade brasileira, em geral, é como caminhar por uma superfície em mutação, com altos e baixo, trechos bem cuidados, outros abandonados, planos, inclinados, tudo de acordo com o gosto ou capricho do dono da casa, que também é o dono da calçada. Em Londres, por ser de responsabilidade do poder público, as calçadas são uniformes. Outra vantagem: você não pode bater à porta de ninguém para exigir que mantenha a calçada em bom estado. Quando a calçada é um bem público, você sabe em que porta bater quando precisa exigir alguma ação.

Recentemente, a irmã de uma amiga minha veio de férias para a Europa e teve a infelicidade de quebrar a perna em Paris. Depois de ser atendida (muito bem atendida, por sinal), ela veio para Londres onde teve que "curtir" o que lhe restou das férias, numa cadeira de rodas. "Um pesadelo" nas palavras dela. Depois da nossa conversa, eu pensei: "se numa cidade como Londres, onde as calçada são planas, onde toda calçada é rebaixada nas esquinas, exatamente para facilitar a vida de quem usa cadeira de rodas, ela passou pelo que passou, imagine numa cidade onde os calçamentos, muito frequentemente, parecem pistas de obstáculos? E Londres ainda tem a desculpa de ser uma cidade muito antiga, com ruas construídas para carruagens e adaptadas para a era do automóvel. O metrô de Londres nasceu no século XIX, quando a preocupação com a mobilidade dos deficientes físicos era praticamente inexistente. Mesmo assim, a cidade tem algumas soluções simples que ajudam em muito: além do rebaixamento, toda calçada, assim como as entradas de metrô, tem uma textura diferente na esqueina, para orientar o deficiente visual; os semáforos têm sinais sonoros, pela mesma razão; todo ônibus tem amplo espaço reservado para cadeiras de rodas e carrinhos de bebê.

Outra lição que tirei recentemente das ruas de Londres, é quanto à competência para se realizar uma obra pública. Acordei um dia e vi que tinha movimentação de trabalhadores diante da minha casa. Ao poucos percebi que eles iriam trocar o calçamento. Nunca havia visto algo assim em se tratando de obra pública: uma equipe veio fazendo marcações, outra equipe, logo atrás, veio arrancando o velho calçamento, já seguida por outro time com os blocos de concreto da nova calçada. Tão repentinamente quanto começaram, terminaram. E o chefe da obra, ainda veio me perguntar se eu estava satisfeito com o trabalho deles. Eu tava de queixo no chão: foi rápido, bem feito e não atrapalhou a vida de ninguém.

Foi daí que me toquei para algo tão óbvio, mas que durante toda a minha vida jamais havia dado a devida atenção: calçada não tem dono, calçada é de todo mundo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A única praça de Veneza



No início deste ano estive em Veneza pela segunda vez em minha vida. Entre a primeira e a segunda visita, 10 anos se passaram. Registre-se que estes 10 anos se passaram apenas para o visitante. Veneza, embora se diga que ela está cada vez mais imersa em água, continuava a mesma.

Entre suas inúmeras águas, centenas de pontes e suas ruas estreitas, Veneza guarda as marcas de uma cidade outrora muito poderosa. Não só uma das cidades mais poderosa do planeta mas, ao mesmo tempo, a cidade que abriu o ocidente para o mundo binzantino, por conta das aventuras de um dos seus filhos mais ilustres, o mercador Marco Polo, nascido em 1254.

É claro que cada viagem a Veneza, como a qualquer outra cidade do mundo, você vai aprender coisas novas: fatos, curiosidades, lendas, ligadas à sua história secular. Em Veneza, há por exemplo, muita lenda cercando o corpo de São Marco, o santo protetor da cidade, e a basílica que leva o seu nome e onde supostamente se encontra o seu corpo. Conta a lenda que o corpo de São Marco foi encontrado num pilar da igreja em 1094. A versão atual da basílica é, na verdade, sucessora de outras duas versões que foram destruídas por incêndios. Outra curiosidade a respeito de São Marco é que em qualquer lugar de Veneza, principlamente no alto de alguns edifícios, você vai ver anjos que o representam. Estes anjos são os protetores de Veneza.

Mas comecei a falar da Basílica de São Marco, quando o que eu queria mesmo era registrar uma curiosidade que só nesta minha última visita descobri: São Marco é a única praça de Veneza. Isso mesmo: por uma questão de hierarquia, todos os outros lugares que poderiam ser chamados de "piazza" são denominados de "campo". A Piazza di San Marco, frequentada e admirada por artistas, escritores, imperadores e o mais mortal dos turistas, é uma dessas marcas do poder que Veneza ostenta e que o tempo não apagou. E, assim como Veneza, a praça São Marco é única.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Sua Magestade, O Crow



"God's shoulder was the mountain on which Crow sat." Ted Hughes

Alguns animais são tão londrinos quanto qualquer "londoner". Impossível viver em Londres por algum tempo sem cruzar com esquilos, gansos, pombos, raposas e crows. De todos, o crow e a raposa são os que mais despertam a minha curiosidade. Quanto às raposas, estou só esperando que uma delas me dê a chance de fotografá-la para dedicar-lhes um post aqui.

Altivo, todo em preto, o Crow é uma ave magestosa. Ao contrário dos pombos, é impossível imaginá-lo dócil, comendo migalhas que alguma mão humana lhe estenda. É possível encontrá-los em grupos sobre a grama de algum parque, mas também é frequentemente visto em vôos solitários. Vê-lo pousar soberano sobre o topo de uma árvore, ou chaminé, é uma lição de soberania. Ontem mesmo fiquei durante infindos minutos observando um deles bem à minha frente. Do alto da chaminé, parecia preparar o próximo vôo. Até a imponente decolagem, em nenhum instante dirigiu o olhar para baixo. Outro dia, na estação de trem de Nunhead, um deles pousou no topo de um poste. Lentamente me aproximei com a minha câmera para tentar uma foto. Zeloso da sua imagem, ele ergueu a cabeça no exato momento do click.

Fotografar Crows, aliás, tem sido um dos meus exercícios londrinos. Já cheguei a perseguir um deles durante vários minutos, porque a cada tentativa ele voava e sumia de quadro. Ironicamente, só consegui fotografá-lo quando ele pousou na sacada de uma das casas da vizinhança e, claro, ergueu a cabeça como se dissesse "estou pronto".

Inspirador, Ted Hughes, grande poeta que ficou marcado pelo suicídio da também poeta e ex-mulher, Sylvia Plath, tem uma coletânea intitulada "Crow". Nele, a figura mítica dessa ave que tem um quê de divino e demoníaco, ganha versos que parecem fotografias tiradas com o consentimento do nosso herói.

sábado, 7 de novembro de 2009

A praia dos londrinos



Daqui a pouco vou completar 5 anos de Londres. Foram 11 meses entre agosto de 1998 e julho de 1999, e quase 4 anos desde que mudei pra cá em fevereiro de 2006. Nestes dois períodos, morei em 4 diferentes lugares da cidade: Blackheath, Lee Green, Bermontsey e, agora, Nunhead. Em comum, todos estes lugares têm uma coisa, além da localização ao sul do Thames: sempre tive um ou mais belos parques por perto. O parque é a praia do londrino e, ao que parece, cada bairro tem direito à sua. O primeiro parque que frenquentei com uma certa assiduidade foi o belíssimo Greenwich, com seu mercado, livrarias, pubs, museus, o observatório nacional, cafés, entre outras atrações. Passar uma tarde de sábado em Greenwich é uma das coisas mais agradáveis que você pode fazer em Londres.

Aqui, em Nunhead, estou cercado de parques, mas o que mais curto é o Peckham Rye Park (fotos em p&b acima), que fica a 3 minutos da minha casa. Gosto de fazer caminhadas, observar pessoas, sentir a mudança do parque a cada estação. Agora mesmo, as folhas começam a cair e daqui a pouco as árvores estarão completamente nuas. É irônico que, ao contrário do ser humano, elas fiquem nuas exatamente no inverno.

Também curto muito o Hyde Park (foto colorida), pela beleza que exibe em cada canteiro, seu lago maravilhoso, suas fontes romanas e o speaker corner, com loucos de todas as origens fazendo os seus discursos, aos domingos. Uma mistura de parlamento e igreja a céu aberto.

Quando faz um sol, assim como qualquer praia brasileira, os londrinos invadem os parques: tomam banho de sol, fazem caminhadas, jogam rugby, futebol, entre outros esportes. As crianças sempre têm os seus playgrounds, enquanto que adolescentes e amantes de esportes radicais desfrutam de pistas de skate.

Outra característica que chama a atenção de qualquer brasileiro é ver como o verão transforma os parques londrinos em grandes restaurantes ao ar livre. O londrino transforma a hora do almoço num imenso piquenique. Em alguns deles, como o Green Park você pode até alugar cadeiras. Frequentar um parque em Londres, além de aliviar o stress, é uma boa maneira de interagir com essa gente que tem fama de fria e distante, mas que é apenas diferente. Como é qualquer pessoa de outra cultura que não a nossa.

Se você vier a Londres e tiver a sorte de ficar hospedado na casa de algum amigo mais afastada da região central da cidade, aproveite para descobrir belezas que estão fora do roteiro turístico tradicional. Você vai encontrar, no mínimo, um belo parque a 5 minutos de onde você está.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Camden Town - a outra Londres




Visitar Londres e não conhecer pelo menos um dos seus principais mercados, é tão grave quanto não fazer uma foto com o Big Ben ao fundo para provar que passou por aqui. O primeiro mercado que conheci em Londres foi o de Camden Town. É lá, por exemplo, que você pode ver o que sobrou dos punks. Camden é o retrato da anarquia organizada, se é que isso é possível.

Logo que desce da estação de metrô você já percebe a atmosfera diferente. No caminho até o mercado, dificilmente você escapará da abordagem de algum vendedor de drogas. Lembro que da primeira vez em que estive lá uma senhora negra, gorda e forte, mais forte que gorda, me segurou pelo braço e, enquanto falava, foi me puxando para a margem do canal, tentando convencer-me a comprar o seu "produto". Não é por acaso que a concentração de policiais na área é quase sempre maior do que em outras regiões da cidade. Chegando ao mercado, tem de tudo: comida das mais diferentes nacionalidades; roupa, muito roupa, a preços razoáveis, principalmente de segunda mão; objetos para decoração da sua casa, do mais convencional ao mais bizarro; pubs; tatuadores; tudo, enfim.

Se eu fosse definir Camden Town em poucas palavras diria que é a melhor síntese da Londres que não aparece no imaginário do turista convencional. Toda aquela imagem que se constrói de que o inglês é certinho, organizado, frio, indiferente, não resiste a 5 minutos de de visita a Camden.

Uma outra coisa legal em Camden é que você pode fazer uma bela caminhada (se tiver, bicicleta, vale pedalar) ao longo do canal, indo até Little Venice. No caminho você vai passar no meio do zoo londrino e ao lado de um dos parques mais bonitos da cidade: o Regent's Park. Vai conhecer também os barcos onde muita gente encontrou uma forma alternativa de se morar em Londres.

E se você curte boa música, esta é mais uma boa razão para dar uma passadinha por lá, à noite. Basta dizer que foi na lendária Roundhouse, em Camden, que Jimmy Hendrix surpreendeu os ingleses e o mundo com a sua guitarra desconcertante. E é em Camden que mora a igualmente desconcertante, Amy Winehouse. Precisa dizer mais?