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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Paris e o encanto da distância







A primeira vez que fui a Paris foi em 1994. Cheguei exausto, depois de uma longa, embora agradável, viagem de trem, saindo de Barcelona. O hotel que eu havia reservado era pequeno, porém muito decente e aconchegante, situado numa rua perpendicular à Champs Elyssee. Na manhã seguinte, acordei com uma preguiça daquelas em que os lençóis, travesseiros e colchão se tornam os melhores cúmplices. E lá fora fazia frio e chovia. A única decisão que consegui tomar foi a de que pederia o café da manhã no quarto. Todo esforço exigido era esticar o braço alcançar o menu e o telefone. Devo acrescentar que fazer o pedido em inglês exigiu muito mais esforço.

Minutos depois, o presente: uma bela moça, usando um uniforme incompreensivelmente curto para aquela época do ano, era outubro, invadiu o meu quarto portando uma bandeja, um sorriso aberto e um longo "bon jour" entre os lábios. Foi-se a preguiça. Num instante eu estava sentado. Mas tudo o que respondi foi um "bon jour" nordestino. Nunca o francês fez tanta falta. Perdi a língua, enquanto os olhos acompanhavam os movimentos dela ao deixar a bandeja sobre a mesa. Me desejou "bon appetit" e, com a mesma graça com que entrou, me deixou.

Dia seguinte, eu já não estava tão cansado, embora tivesse caminhado muito no dia anterior, mas resolvi pedir o café da manhã no quarto. Sentei-me e esperei. Poucos minutos depois, o susto, a decepção: uma senhora tagarela que mais parecia uma das saudosas irmãs cajazeiras, entrou no quarto exibindo a delicadeza de um tufão. Colocou a bandeja sobre a mesa e, sem me consultar, puxou as cortinas e começou a apontar para fora e berrar: parri, parri. Repentinamente, virou-se e foi embora.

Mas sou teimoso e, no terceiro dia, voltei a pedir o café da manhã no quarto. "Deve ser um dia sim, outro não", foi o pensamento que me justificou o ato. E o pensamento não me traiu. A garota das pernas torneadíssimas e "bon jour" de seda, bateu levemente à porta e, após ouvir o meu "come in", estava ali à minha frente. E agora, o que dizer? Como abrir passagem para um diálogo se eu sequer sabia dizer que não sabia francês, em francês? Não precisou. Ela mesma tomou a iniciativa do diálogo com um surpreendente "você é brasileiro?". "Sou sim, mas como você descobriu?" A resposta veio seguinda de um dedo que apontava o meu passaporte sobre a mesa. Ela era uma estudante que estava fazendo pós-graduação em cartografia. Era paulistana. E eu não sabia que uma paulistana ficava tão bem falando "bon jour".

Mas por que estou contando esta história? Seguinte: eu estou há 4 anos morando em Londres e só fui a Paris uma única vez para fazer alguns programas para o Canallondres. Quando eu morava em São Paulo, fui a Paris umas 4 ou 5 vezes. O fato de saber que Paris está aqui ao lado acomoda ou faz diminuir o encanto. É a mesma razão pela qual fui tão poucas vezes ao Rio, mesmo morando cerca de 10 anos em São Paulo. Enquanto aquela bela moça pareceu um sonho distante, um impossível sonho parisiense, todas as minhas fantasias a desejaram. E como num lapso de um piscar de olhos me abandonaram, quando a familiaridade de um "você é brasileiro?" nos aproximou.

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