BlogBlogs.Com.Br
Mostrando postagens com marcador canallondres. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador canallondres. Mostrar todas as postagens

domingo, 5 de dezembro de 2010

Magia da Neve








2010 começou e está terminando com muita neve em Londres. No início do ano nevou como não acontecia há quase duas décadas. Por isso, o que se viu na cidade foi o retrato do caos que, ao contrário dos brasileiros, os ingleses não estão muito acostumados a lidar. Linhas de trens paradas, ônibus sem sair da garagem, estradas bloqueadas, escolas fechadas. Claro, junto com a neve caiu também uma chuva de críticas sobre a cabeça de Boris Johnson, prefeito da cidade. Para quem está acostumado com a ordem, o impresvisto, frequentemente, gera pânico. O papel de defender políticos não é uma roupa confortável de se vestir, mas até que dá pra entender a justificativa do prefeito: numa cidade que não costuma nevar é muito caro manter equipamentos que ajudem a amenizar uma situação que só ocorre ocasionalmente. Bobagem comparar com a capacidade dos russos, por exemplo, de lidar com a costumeira neve.

Mas o que eu queria destacar, entre as críticas e opiniões que ouvi nos debates da tv, radio e internet, foi o argumento de que a neve, por outro lado, levou pais e filhos para os parques (o que não falta em Londres é parque), como há muito tempo não se via. Eu mesmo testemunhei, andando pelo parque que fica a três minutos da minha casa, a presença de tantas famílias que mais parecia um domingo de piquenique: pais e filhos criando bonecos, guerra de bola de neve, alegria. O inglês, geralmente muito sisudo no inverno, concedia sorrisos. O argumento em questão era uma pergunta: "será que o fato da neve ter gerado, de forma tão espontânea, esse "dia da família", não compensava os bilhões de prejuízos que os econonistas se apressavam em calcular?" Bem, o fato é que o prejuízo que a neve traz é razoalvelmente calculável; os benefícios de se ver pais e filhos enchendo os parques e as ruas de alegria, nem tanto.

O meu vizinho inglês, John, costuma dizer que a neve é o meu playground. Ele, tem certa razão: bastam os primeiros sinais de flocos despencando do céu, e lá vou eu com a minha câmera pra janela, ou mesmo pra rua, capturar o momento mágico. Em seguida, corro para postar algumas dessas fotos na twitpic do Canallondres e no Facebook. A reação das pessoas mostra que não estou sozinho: muita gente clicando o botão 'like', muitos comentários, muita nostalgia, por parte de quem já viveu o momento. A primeira neve ninguém esquece.

Lembro que, há muito tempo atrás, no filme "Bye, bye, Brasil", há um momento de mágica no circo: o personagem interpretado por José Wilker faz nevar diante da platéia. Sob a chuva de farelos de côco, o personagem exclama algo assim: "Agora, como em todo país civilizado, no Brasil neva!" Isso acabava me levando a reflexões sobre o nosso propalado complexo de inferioridade em relação aos países do Hemisfério Norte, os chamados países protestantes e desenvolvidos. A minha experiência aqui acabou com qualquer resquício que pudesse existir em relação a este sentimento. Lembro que nos meus tempos de estudante de Sociologia se falava muito da tese de que o calor dos Trópicos era muito propício ao cultivo da preguiça, enquanto que o clima ameno do Hemisfério Norte gerava disposição para o trabalho. Posso assegurar que, pelo menos no meu caso, é bem mais fácil acordar disposto com o dia claro, e quente, às 5 da manhã (não que isso acontecesse comigo no Brasil), que às 9, num dia escuro de inverno. Talvez isso seja verdade para o trabalho intelectual, mas não é só isso que gera o que a gente se acostumou a chamar de desenvolvimento. Sem contar que a escuridão que cai sobre Londres às 4 da tarde, além de encurtar o dia, traz junto um sentimento muito parecido com a depressão. Gosto do frio porque ele me puxa pra cama. E cama, pra mim, é sinônimo de mais tempo para sonhar.

A verdade é que este sentimento de volta à infância que a neve desperta nos adultos, sejam eles brasileiros ou ingleses, me faz curtir muito estes momentos. No entanto, é sempre bom lembrar que depois da neve vem a lama. E isso traduz um pouco do que é a vida.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Antes e Depois do Canallondres



Agora em fevereiro completei 4 anos de Londres. Considerando o período entre agosto de 1998 e julho de 1999, quando morei como estudante, são 5 anos. Mas quero mesmo falar um pouco é sobre essa experiência londrina desde que aqui cheguei em fevereiro de 2006, e vou dividir este período em um antes e um depois: antes e depois do Canallondres.

A grande diferença entre estes dois períodos está no fato de que, até abril de 2009, quando o Canallondres foi lançado, a minha convivência com a comunidade brasileira em Londres era mínima. Fora alguns contatos esporádicos, tinha, de fato, apenas um amigo brasileiro, remanescente da minha primeira etapa londrina. Durante os dois primeiros anos, basicamente, me relacionei ou com ingleses (dois) que já conhecia, ou ingleses que conheci através da Susan, com quem sou casado. Foi e tem sido uma experiência maravilhosa, porque não poderia ter forma melhor para evoluir no domínio da língua inglesa e do jeito de ser de quem aqui nasceu. Mas também não é menos maravilhosa a experiência pós Canallondres.

Se existe uma coisa chamada alma brasileira, ela pode ser vista com maior nitidez através do brasileiro imigrante. Não existe melhor filtro para separar o que é essencialmente fruto de uma cultura em particular, e o que pertence ao ser humano como um todo. Existem aqueles onde esse filtro atua com maior rapidez e, outros, mais resistentes, que se recusam a absorver influências. Com o número de brasileiros abrigados em Londres, para muitos não é necessário sequer a preocupação com o aprendizado da língua. E embora essa seja a grande barreira a ser ultrapassada para quem deseja conhecer mais da cultura em que está inserido, não é tudo. Conviver com o inglês também exige muita paciência. Não há entre eles a euforia latina que nos torna "os melhores amigos" ao descobrir algumas poucas (ou muitas) afinidades logo no primeiro encontro. Amizade à primeira vista, está fora de questão. Ainda lembro da primeira vez que um amigo inglês ligou em casa e o quanto fiquei surpreso quando, ao falar que iria chamar a Susan, descobri que ele estava ligando para me convidar para uma pint. Isso levou mais de 2 anos para acontecer. Nos primeiros contatos com os brasileiros, uma das coisas que mais surpreendiam a Susan é o quanto dois brasileiros revelam de si mesmos logo no primeiro encontro. Recentemente, conheci uma brasileira que acabava de chegar e, logo nos primeiros minutos, tinha a sensação de que tinha acabado de ler a sua biografia. Como se não bastasse, no seu pouco inglês, ela repetiu tudo para a Susan, logo em seguida.

Também me fascina ver o quanto a nossa flexibilidade, quando não é acompanhada do famoso 'jeitinho' ajuda na adaptação a um lugar tão diferente. O inglês se acostumou tanto com estabilidade e previsibilidade, que entra em pânico quando alguma coisa sai ligeiramente do 'script'. Fico muito feliz de ver tantos brasileiros abrindo espaços, com uma vontade e uma inteligência tão peculiares quanto contagiantes. Parece que o fato de termos crescido encarando tantas adversidades, crises, inflação, desemprego, nos fizeram mais fortes para encarar qualquer situação. Londres também ajuda, pois é uma cidade que absorve, envolve e aceita quem está disposto a crescer.

Por tudo isso, fico feliz cada vez que tenho a oportunidade de contar um pouco da história desses brasileiros através dos vídeos do Canallondres. Além de cada um ter uma história única para contar, aprender através dessas histórias tem um valor muito acima do que eu poderia pagar, mesmo em sonho. Ou seja: não tem preço.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Um lugar onde o diferente dá no mesmo


De vez em quando, um inglês completamente pelado (pode ser uma inglesa) invade uma quadra de tênis, um campo de futebol, de rugby. E aí já viu: uma correria de policiais e seguranças tentando conter o adão. Andando pelas ruas de Londres, é fácil encontrar o que poderia ser uma explicação: é muito difícil chamar a atenção nessa cidade. De tanto conviver com povos e culturas diferentes (são mais de 200 línguas no cotidiano londrino), o diferente simplesmente incorporou-se à paisagem. É só mais um. O exótico, o bizarro e a camiseta com calça jeans, aprenderam a dividir o mesmo espaço, pacificamente.

A idéia desse texto nasceu do programa que o Canallondres está levando ao ar hoje: "Rakell Sá no Café de Paris". Vivendo há mais de 10 anos fora do Brasil, a cearense Rakell adotou um estilo punk-rock e curte roupas coloridas e muita maquiagem. Um visual que chamaria a atenção em qualquer lugar do mundo, menos em Londres. Foi esse o motivo que a levou a trocar Barcelona por Londres. Eclética, diz misturar Lady GaGa, Madonna e Ivete Sangalo. Mas ao fazer as gravações do programa pra gente, próximo à London Bridge, mesmo com o seu cachecol combinando com o salto alto pink, além de uma câmera a acompanhá-la, Rakell era apenas mais uma entre os que passavam.

O que Londres ensina é que todo mundo merece respeito. É por isso que se alguém nas ruas dessa cidade, de repente, vira a cabeça para olhar alguém que acabou de passar, pode ter certeza: é turista.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Primeiro dia de viagem



Olá,

Hoje a gente está começando uma nova viagem, nesse imenso mundo virtual. Falo a gente porque aqui na internet ninguém viaja sozinho. É um mundo sem fronteiras, onde todo mundo pode embarcar e desembarcar à hora que der na telha.

Não existem dados oficiais, mas calcula-se que entre 2 e 3 milhões de brasileiros vivem no exterior. Uma verdadeira diáspora que espalhou conterrâneos mundo afora a partir do início dos anos 90. Foi pensando nestes brasileiros, mais especificamente naqueles que vivem em Londres, que, no dia 02 de abril de 2009 nasceu o Canallondres.tv. Quase 7 meses depois, a gente expandiu as fronteiras e estamos cobrindo a Europa. Já estivemos na Itália, França, Alemanha, Portugal, Espanha e Dinamarca. Alguns dos muitos programas gravados nestes países, pela nossa diminuta, competente e brava equipe, já estão no ar. Outros, aguardam na fila de edição.

Também já mostramos muitos brasileiros em Londres, o que eles fazem, como se divertem, o que sonham para o futuro. Estamos formando uma verdadeira videoteca com informações valiosas sobre estes brasileiros que estão levando a nossa bandeira e a nossa cultura para os 4 cantos do mundo. Se você é um desses brasileiros, isso é mais um motivo para participar, dividindo a sua experiência com a gente.

Não poderia de registrar alguns nomes que fazem parte da nossa curta, porém intensa, história: Mino Reis, Roberta Arantes e Gustavo Cid, que já retornaram ao Brasil. Aqui em Londres, estamos eu, a Susan Ferreira e a Caroline Ravagnani, tocando o barco pra frente. Venha com a gente. Você é muito bem-vindo.