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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O dono da calçada



Em qualquer cidade do Brasil a calçada é parte da casa. Em Londres, a calçada pertence à rua. Em princípio, isso poderia significar exatamente nada, mas faz uma grande diferença. Quem curte fazer "jogging" ou simplesmente dar uma volta no quarteirão, sabe a diferença: andar por uma calçada em qualquer cidade brasileira, em geral, é como caminhar por uma superfície em mutação, com altos e baixo, trechos bem cuidados, outros abandonados, planos, inclinados, tudo de acordo com o gosto ou capricho do dono da casa, que também é o dono da calçada. Em Londres, por ser de responsabilidade do poder público, as calçadas são uniformes. Outra vantagem: você não pode bater à porta de ninguém para exigir que mantenha a calçada em bom estado. Quando a calçada é um bem público, você sabe em que porta bater quando precisa exigir alguma ação.

Recentemente, a irmã de uma amiga minha veio de férias para a Europa e teve a infelicidade de quebrar a perna em Paris. Depois de ser atendida (muito bem atendida, por sinal), ela veio para Londres onde teve que "curtir" o que lhe restou das férias, numa cadeira de rodas. "Um pesadelo" nas palavras dela. Depois da nossa conversa, eu pensei: "se numa cidade como Londres, onde as calçada são planas, onde toda calçada é rebaixada nas esquinas, exatamente para facilitar a vida de quem usa cadeira de rodas, ela passou pelo que passou, imagine numa cidade onde os calçamentos, muito frequentemente, parecem pistas de obstáculos? E Londres ainda tem a desculpa de ser uma cidade muito antiga, com ruas construídas para carruagens e adaptadas para a era do automóvel. O metrô de Londres nasceu no século XIX, quando a preocupação com a mobilidade dos deficientes físicos era praticamente inexistente. Mesmo assim, a cidade tem algumas soluções simples que ajudam em muito: além do rebaixamento, toda calçada, assim como as entradas de metrô, tem uma textura diferente na esqueina, para orientar o deficiente visual; os semáforos têm sinais sonoros, pela mesma razão; todo ônibus tem amplo espaço reservado para cadeiras de rodas e carrinhos de bebê.

Outra lição que tirei recentemente das ruas de Londres, é quanto à competência para se realizar uma obra pública. Acordei um dia e vi que tinha movimentação de trabalhadores diante da minha casa. Ao poucos percebi que eles iriam trocar o calçamento. Nunca havia visto algo assim em se tratando de obra pública: uma equipe veio fazendo marcações, outra equipe, logo atrás, veio arrancando o velho calçamento, já seguida por outro time com os blocos de concreto da nova calçada. Tão repentinamente quanto começaram, terminaram. E o chefe da obra, ainda veio me perguntar se eu estava satisfeito com o trabalho deles. Eu tava de queixo no chão: foi rápido, bem feito e não atrapalhou a vida de ninguém.

Foi daí que me toquei para algo tão óbvio, mas que durante toda a minha vida jamais havia dado a devida atenção: calçada não tem dono, calçada é de todo mundo.

2 comentários:

  1. Good iea of the blog - solike it so.Good quality of the iformation in whole.

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  2. Nossa! Adorei seu blog...eu tava procurando exatamente isso. Curiosidades sobre Londres e achei

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